Relacionamentos Carmicos
Todos os relacionamentos proporcionam oportunidades para o
desenvolvimento pessoal. Eles oferecem os obstáculos e as recompensas, os altos
e os baixos, a experiência da participação pessoal que nos mostra como nos
conflitamos com nossa filosofia de vida quando temos de viver aquilo que
pregamos. Há dois tipos básicos de relacionamentos: relacionamentos cármicos
(aprendizagem pela dor) e dármicos (aprendizado pelo amor).
Quando há carma envolvido, tendemos a sentir uma falta de
controle sobre o modo de reagir a esses eventos. Uma pessoa pode ver-se atuando
em desacordo com a própria índole quando está pondo em ação e corrigindo certas
qualidades de uma vida pregressa relacionadas com uma personalidade com a qual
já não está conscientemente familiarizada. Carmicamente, essas qualidades devem
ser desenvolvidas para que o indivíduo aprimore o seu contato com a vida
presente.
A característica de um relacionamento cármico é que os
parceiros carregam emoções não resolvidas dentro de si, tais como culpa, medo,
dependência, ciúme, raiva ou algo do tipo. Devido a essa “carga” de emoções não
resolvidas, eles se sentem atraídos um ao outro em uma outra encarnação. O
objetivo do reencontro é proporcionar uma oportunidade para se resolver o
problema em questão. Isto acontece recriando-se o mesmo problema em um curto
espaço de tempo. Quando eles se conhecem, os “jogadores” cármicos sentem uma
compulsão de estar mais perto um do outro, e depois de algum tempo, eles
começam a repetir os padrões emocionais dos seus antigos papéis. Então, o palco
está armado para que ambos enfrentem um antigo problema de novo e talvez lidem
com ele de uma forma mais iluminada. O propósito espiritual do reencontro,para
ambos os parceiros, é que eles façam escolhas diferentes das que fizeram
naquela vida passada.
A energia do amor é essencialmente calma e pacífica, alegre
e inspiradora. Não é pesada, cansativa nem trágica.
O relacionamento cármico assume o tom de cada indivíduo, ao
passo que desfaz as ilusões do outro. Mediante esse processo, alcança-se uma
nova consciência, e um senso de leveza e liberdade pode ser experimentado à
medida que o ônus do peso cármico é aliviado. É interessante que, em geral, o modelo
cármico só é compreendido com clareza, depois que se aprendeu uma lição.
Um indivíduo pode lutar com dificuldades num relacionamento
durante meses ou anos sem sequer compreender a natureza dessa luta. Só quando a
dificuldade subjacente vem à superfície e é resolvida é que o ônus cármico
efetivamente se dissolve. A recompensa para esse trabalho duro é a compreensão,
e ela vem depois que entendemos o elo que interliga o resíduo da vida passada e
o agora.
O carma tende a exprimir-se através de uma enfiada de
experiências semelhantes que se manifestam num período de anos. Quando
estabelecemos um relacionamento, geralmente é porque inconscientemente vemos
algo no outro indivíduo que pode nos ajudar a resolver um problema cármico. Em
outras palavras, atraímos quem necessitamos, numa época da vida em que estamos
prontos para compreender. Assim, o antigo adágio "quando o aluno está
pronto, o mestre aparece" é realmente o tom característico da razão e do
modo como ocorrem os relacionamentos cármicos.
Existem também relacionamentos curadores e destrutivos. Uma
característica dos relacionamentos curadores é que os parceiros respeitam um ao
outro como ele é, sem que um tente mudar o outro. Eles sentem muito prazer na
companhia do outro, mas não se sentem inquietos, desesperados ou sós quando o
outro não está por perto. Neste tipo de relacionamento, cada um oferece
compreensão, amparo e encorajamento ao seu ente querido, sem tentar resolver os
problemas dele. Existe liberdade e paz nesse relacionamento. É lógico que pode
haver desentendimentos, de vez em quando, mas as emoções que eles provocam têm
vida curta. Os dois parceiros estão preparados para perdoar. Existe uma conexão
entre seus corações e, como resultado disso, eles não tomam as emoções e os
erros do outro como algo pessoal. Como isso não atinge uma camada mais profunda
de dor, eles não lhe dão tanta importância.
Emocionalmente, ambos os parceiros são independentes. Eles
não retiram sua força e bem-estar da aprovação ou da presença do seu
parceiro.Um não preenche um vazio na vida do outro, mas lhe acrescenta algo
novo e vital.
Todos os relacionamentos contêm um potencial para o
desenvolvimento espiritual. Esteja ou não o carma envolvido, há oportunidade
para cada pessoa experimentar um relacionamento espiritual. A corrente de cada
vida pode dar muitas voltas, mas está sempre fluindo. Em alguns pontos, a água
é mais profunda; em outros ela é rasa. Por vezes, a água é escura; outras
vezes, sua claridade é como as profundezas da própria alma pura. A água não
pensa no que possa ganhar ou perder enquanto nutre o solo; ela simplesmente
está lá.
Se pudermos aprender a nutrir os outros em vez de apenas
apegar-nos a nós mesmos, poderemos navegar sobre o carma em vez de naufragar
sobre ele. Sempre que o rio da vida muda de direção, também o barco do carma o
fará; nunca lutando contra a correnteza, mas fluindo com ela rumo a compreensão
e resolução, evolução.
Texto: Maria Isabel de Oliveira e Pamela Kribbe
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